Monday, March 06, 2006

 

Socialismo na indústria cinematográfica



A entrega do Oscar esse ano causou-me misto de indignação e compreensão. A primeira indignação antes mesmo da cerimônia começar. Digo, começar a ser transmitida pela globo (que está em minúsculo propositalmente) ! Pois não é que a rede globo de televisão teve a empáfia de sobrepor o aborrecidíssimo bbb com a cerimônia do Oscar? (diga-se en passant que ambas atrações padecem de um mesmo mal em suas votações: a previsibilidade). Preferiria que o sbt, com todas as suas falhas, a apresentasse. Pelo menos teria assistido à cerimônia completa e o Rubinho estaria lá para nos brindar com suas estatísticas e previsões equivocadas, e não o aborrecido e anti-comentarista do Wilker.

A segunda indignação é pessoal: como pude ser tão inocente em não prever que Brokeback Mountain não ganharia o Oscar de melhor filme? A Academia parece gostar de dividir os prêmios de melhor direção e melhor filme, e fui conferir as estatísticas para confirmar que dentre as 78 edições, em 23 (quase um terço) o melhor diretor não dirigiu o melhor filme. Em anos onde não há um franco favorito, isso se torna mais patente. Este ano não seria exceção. Injusto? Não sei. Num ano de ótimas produções, talvez seja mesmo difícil escolher um em detrimento de outro, e dividir parece ser a solução. Como resultado 4 filmes saem com 3 estatuetas, e outros 20 com uma cada.

É gritante a competência na direção de Ang Lee em comparação à de seus concorrentes, pois ele consegue dar um olhar novo a um tema controverso, e melhor, de maneira elegante, sensível e pouco intrusiva. Talvez o único que se aproxime a ele neste ano seja George Clooney, igualmente elegante e econômico. Spielberg é sempre competente e hábil tecnicamente, mas parece ficar meio engasgado, como que querendo dizer algo mais do que mostra. Por fim, Paul Haggis e Bennett Miller são excelentes, mas ainda a um passo dos colegas. Assim, a premiação de Ang Lee não é só óbvia como mais do que merecida, ainda mais se levarmos em conta o seu currículo.

Então, para quem sobra o prêmio de melhor filme? Se Brokeback Mountain (BM) saísse vencedor a Academia teria feito um grande favor à sociedade (especialmente a estadunidense) ao endossar que o amor não segue regras. Por outro lado, talvez seja esperar demais que a comunidade votante, pertencente a essa sociedade, compreenda esse papel e endosse algo contrário às suas próprias crenças. Mesmo assim, o fato de BM constar entre os favoritos e com o maior número de indicações já é um passo nesse sentido.

Paralelamente vem Crash, um filme que, ainda que não muito original nem na temática, nem na estrutura narrativa, vai ao encontro da angústia dos dias de hoje. Assistir ao filme é quase que como olhar pela janela da casa ou do carro; pelo menos foi assim como eu me senti, mesmo a milhares de quilômetros de Los Angeles. Fiquei imaginando, então, para quem vive lá! O filme é um desabafo de todos para todos, vociferando verdades que muitos insistem em não enxergar. É uma política talvez mais urgente do que aquela apresentada em BM. É a política não de um grupo, mas de todos os grupos. Ao falar sobre tolerância, os homossexuais podem se incluir e tirar proveito dessa mensagem. Além disso, Crash é, dentre todos os filmes concorrentes na categoria principal, o único indie puro-sangue, o que não deixa de ser interessante. Se o conservadorismo da Academia venceu na temática, por outro lado deu um novo fôlego à indústria e à maneira de se produzir filmes.

Embora BM continue sendo o meu filme favorito, ainda acho que não houve injustiça. Talvez o fato de BM ter perdido um prêmio que era apontado como certo por todos, mesmo por aqueles que não o consideravam a melhor opção, ou que o apoiavam apenas pela temática, funcione como uma contra-propaganda, fazendo com que ele seja sempre lembrado por ter sido injustiçado. Por outro lado, Crash ganha uma sobrevida e poderá vir a ser melhor apreciado por um público maior, e não ser esquecido logo após a cerimônia, destino quase inevitável, caso não se sagrasse o vencedor da principal categoria.

Enfim, fiquei feliz com as premiações como um todo, temendo que o verdadeiro injustiçado tenha sido Star Wars III, completamente ignorado pela Academia até mesmo nas categorias técnicas. Fiquei especialmente contente com a premiação da trilha sonora de Gustavo Santaoalla desbancando o favoritismo de John Williams, que é inegavelmente o maior compositor de trilhas sonoras de todos os tempos, porém com uma composição que em certos momentos é maior do que o próprio filme. Contrariamente, a trilha de Brokeback Mountain é bastante contida e com um tom muito mais apropriado, tornando-se inesquecível e parte inexorável do filme.

Comments:
Só digo uma coisa: fiquei indignada não apenas por boa parte da festa ter sido substituída por Big Brother, mas por ter que ouvir os comentários insossos do Wilker. Isso sem mencionar o silêncio dele durante aqueles clips com partes de filmes de todos os tempos. Ele dizia uns parcos títulos, mas silenciava na maioria. Vexame.
 
Na minha opinião, a economia da trilha do Santaolalla casou bem com o filme porque é a expressão de todo o aparente comedimento dos personagens. Especialmente do Ennis. Um filme de emoções forçosamente guardadas pede uma trilha econômica. Aliás, econômica e bela essa trilha. Não poderia haver outro vencedor. O talento de John Williams já foi mais que reverenciado.
 
É de fato lamentável que a globo tenha preterido o oscar, dando mais atenção ao BBB, mas nada que me suepreendesse: BBB é mais povão. E para continuar nesta linha, Wilker como apresentador também não foi surpresa. para falar a verdade, não me assustaria nem se ela colocasse o faustão lá para comentar a entrega dos prêmios. Quanto ao ganhador de melhor filme, Crash para mim foi surpresa. Eu de fato torcia por ele pela sua originalidade, montagem e enredo, apesar de não ser esta a sua opinião. Quanto a BM, é de fato um ótimo filme, que também merecia a estatueta. O que os dois têm em comum? São um forte tapa na cara, duramente realistas.
 
Como sou excessivamento sonsa, fiz um comentário no texto errado! Vai o repeteco de parte desse texto em mais um comentário entre parêntesis):

(parêntesis: Achei q a trilha sonora de Brokeback Mountain fosse do MC num-sei-lá-o-que, com COWBOY VIADO!)
KKKKKKKKKKKKKK

Erlon,
bla bla bla....
... Amei o "George Clooney, elegante e econômico", só faltou: lindo e perfeito! o q realmente não cabia a vc dizer.

Bjim.
 
falou TUDO, amigo!
 
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